O desenho de uma sociedade vinda
da revolução liberal, com todos os podres que o sistema democrático também cria
e de que Eça de Queirós, na segunda metade do século XIX, é um dos críticos
mais contundentes, perpassa esse romance extraordinário que é “Os Maias”. As figuras
queirosianas e o ambiente que as rodeia, têm, ainda hoje, uma actualidade
espantosa.
A partir do texto de Eça de
Queirós, Gonçalo Amorim encenou e adaptou, em co-criação com os professores
Andreia Figueiredo, Michelle Domingos e Paulo Silveira e os actores Carlos Marques e Sofia Dinger, com música de Carlos Marques e interpretação musical de João
Rosário, cenografia e figurinos de Catarina Barros, desenho de luz de Francisco
Tavares Teles, sonoplastia de Eduardo Brandão, vídeo de Francisco Moura e
Ricardo Maia e apoio dramatúrgico de Rui Pina Coelho, o 230º espectáculo do TEP
– “: Os Maias” (dois pontos Os Maias), uma aula encenada a partir do romance.
O romance veicula sobre o País uma perspectiva muito derrotista, muito
pessimista. Mas a história é também um pretexto para o autor fazer uma critica
à situação decadente do País (a nível político e cultural) e à alta burguesia
lisboeta oitocentista, por onde perpassa um humor (ora fino, ora satírico) que
configura a derrota e o desengano de todas as personagens.
Este
trabalho concentra alguns dos mais recorrentes interesses do projecto artístico
do TEP: ligação com a comunidade escolar, trabalho a partir de materiais
não-dramáticos, colaboração com intérpretes sem educação artística formal e
inscrição numa linhagem de teatro popular.
SINOPSE
O texto comportará passagens do romance,
bem como interpolações que decorrem do ambiente de sala-de-aula. O cenário
replica uma normal sala-de-aula, num dispositivo cénico, o mais realista
possível, criando uma confusão entre situação teatral e situação real. Assim,
numa sala de aula três professores e dois actores ensaiam uma aula sobre Os
Maias. Teatro e escola, arte e ensino, literatura e power point, Eça de Queirós
e o século XXI cruzam-se onde o pensamento ainda é importante: no palco e na
sala de aula.
“:Os Maias”, sempre no Auditório
Municipal de Gaia , estará em cena em dois ciclos de
representações: entre 20 de Fevereiro e 14 de Março, às segundas, quartas,
quintas e sextas-feiras, às 10H30M e às 15H00M, e, aos sábados, às 21H30M; e,
entre 15 e 27 de Março, de quarta-feira a sábado, às 21H30M e, aos domingos, às
16H00M.
Fotografias de José Martins